sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Maurren Maggi voa e garante a segunda medalha de ouro do Brasil por 1cm


Com vitória no salto em distância, brasileira se torna a primeira mulher do país a subir ao lugar mais alto do pódio em esportes individuais
Maurren Maggi até resistiu. Os primeiros versos, ela cantarolou com o sorriso abertíssimo. Passou pelas "margens plácidas", pelo "brado retumbante", pelo “desafia a própria morte” mas, na “terra adorada”, desmanchou. Pôs a mão no rosto. As lágrimas desceram, invencíveis, centímetro por centímetro. Como se descesse junto a imensa ficha... o título olímpico, a vitória eterna, a medalha de ouro. Um centímetro tinha mudado sua vida.

Aqueles trinta segundos de hino nacional condensado ecoavam Brasil afora. Maurren Maggi, suspensa por doping; Maurren Maggi, dois anos distante do esporte; Maurren Maggi, sete metros e quatro centímetros no primeiro salto. Foi uma volta por cima, ou um vôo por cima. Que desagradou a uma brasileira:

- Mamãe, eu queria a de prata - disse a pequena Sophia, de três anos, do outro lado do planeta, para deleite de um país.

Sophia, filha de Maurren, tinha dito antes da viagem que não queria medalha nenhuma. Estava chateada com a viagem da mãe. Maurren prometeu uma medalha. E foi buscá-la. E foi cedo. Chegou sem maquiagem, com um simples coque. A principal adversária, a russa Tatiana Lebedeva, exibia um penteado entre exótico e ousado. Outras tinham piercings no umbigo. Lebedeva pulou primeiro, voando para 6,97m. Maurren precisava responder.

E lá foi ela. Respirou. Deu um adeus breve para as câmeras. Bateu nas coxas, gritou, deu um soco no ar. Fez o sinal da cruz. Falou para si mesma:


- Vamos lá, vai.


E correu. Foram 22 largos passos até o salto. De pernas estendidas, Maurren levantou vôo no Ninho do Pássaro. E pousou longe: 7,04m.




Um imenso centímetro de ouro



Depois do pouso, esperou. Faltavam cinco saltos para cada adversária. Oito mulheres em busca da distância. Lebedeva tentou. Queimou. E queimou. Quatro saltadoras foram eliminadas - a brasileira Keila Costa entre elas. Apenas oito teriam direito a mais três saltos. A nigeriana Blessing Okagbare chegou a 6,91m, a melhor marca de sua carreira, e ficou com o bronze. Maurren queimou todos os saltos até que, no quinto, foi econômica: 6,76m. A prata estava garantida - mas ainda havia Lebedeva. A russa tinha uma última chance.

Lebedeva, campeã olímpica em Atenas, correu. E saltou. E voou. Aterrissou perto da marca dos sete metros, criando suspense. E veio o resultado: 7,03m - um imenso centímetro a menos que Maurren. Um imenso centímetro de ouro. Maurren abriu os braços e o sorriso. Correu para abraçar seu técnico Nélio Machado, cercado de atletas brasileiros.

O primeiro ouro de uma mulher em esporte individual. A primeira medalha de ouro brasileira no atletismo desde 1984 (Joaquim Cruz nos 800m). Cinco anos após viver o drama da suspensão por doping e chegar a abandonar a carreira... Maureen Maggi chegou ao Olimpo.

- Quando saltei... queria que a prova acabasse ali. Não caiu a ficha ainda... quero ouvir o hino nacional.

Lembrou da filha:

- É pela Sophia que eu estou aqui. Tenho certeza de que Deus fez um caminho diferente, mas para dar tudo certo. E a minha preciosidade está em casa para me acompanhar nisso - disse Maurren, em entrevista à TV Globo.

Sophia, a pequena que queria prata, conversou com a mãe pelo link da TV no estádio:

- Oi, filha. Eu te amo muito. Mamãe está com saudade - disse emocionada e, logo depois, ouviu Sophia responder que também a ama "bastante".

O pai, William, gemeu emocionado:

- Filha, que salto...

- Você viu, pai, que lindo...

Momentos antes da entrevista, Maurren tinha colhido uma bandeira do Brasil. E uma bandeirinha chinesa. Abriu o pendão brasileiro sobre a cabeça - guardou a chinesa na mão direita - e partiu para sua volta olímpica. Para sua volta olímpica por cima. Maurren Higa Maggi, medalha de ouro. Medalha de ouro para Sofia. Medalha de ouro para o Brasil

Keila fica na décima-primeira posição



Keila Costa, que tentava beliscar um lugar no pódio, acabou parando na metade da prova, quando há o corte das quatro piores marcas. Como queimou as duas primeiras tentativas, a brasileira só teve um salto computado: 6,43m. Ela terminou a competição em 11º lugar entre as 12 classificadas para a final.

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